Durante uma audiência realizada em novembro de 2024, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, expressou sua insatisfação com o tenente-coronel Mauro Cid por ele não ter apresentado as informações necessárias. O magistrado enfatizou que essa era a sua "última chance de dizer a verdade" no contexto do acordo de delação negociado.
"Eu quero fatos, por isso que eu marquei essa audiência. Eu diria que é a última chance de o colaborador dizer a verdade sobre tudo", afirmou Moraes, que estava acompanhado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. A audiência ganhou atenção quando os vídeos dos depoimentos foram disponibilizados ao público.
O ministro também destacou que a Polícia Federal (PF) entregou ao STF evidências indicando que Mauro Cid havia omitido informações, na tentativa de reduzir a gravidade das alegações feitas. Moraes alertou que essa conduta poderia resultar na rescisão do acordo de delação e eventual prisão do militar. Ele deixou claro: "Não há, na colaboração premiada essa ideia de que 'só respondo o que me perguntam'. Não! O colaborador ou colabora com dados efetivos, [...] ou não há por que, dentro dessa ideia de justiça colaborativa, se dar os benefícios".
A delação de Cid, por fim, foi mantida. A ata da audiência foi tornada pública após a remoção do sigilo da delação por Moraes, uma decisão tomada em decorrência das recentes denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro Braga Netto e mais 32 pessoas. Eles foram acusados de estarem envolvidos em uma conspiração golpista com o objetivo de manter Bolsonaro no poder após a sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
A denúncia formal da PGR trouxe graves acusações. Bolsonaro foi acusado de crimes como liderança de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, além de golpe de Estado. Junto a ele, o ex-ministro Braga Netto e Mauro Cid, entre outros 31 indivíduos, foram denunciados por sua participação nos mesmos crimes, com o intuito de criar uma "falsa realidade de fraude eleitoral" para justificar sua derrota nas eleições de 2022.
Adicionalmente, as investigações sugerem que o ex-presidente tinha consciência de um suposto plano para assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o próprio ministro do STF Alexandre de Moraes. Em resposta, a defesa de Bolsonaro manifestou surpresa e repulsa em relação às acusações feitas pela Procuradoria-Geral da República, destacando que o ex-presidente "jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o sustentam".