Recentemente, o ex-presidente Jair Bolsonaro reuniu-se com senadores do seu partido no Senado para debater a prioridade da anistia aos presos do 8 de Janeiro. O encontro, realizado na terça-feira, 18, contou com a presença de parlamentares do PL e do Novo, que se reúnem semanalmente para discutir as pautas da oposição. A reunião ocorreu em um contexto delicado, pois a expectativa em torno das denúncias contra Bolsonaro, feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), tem gerado polêmica e incertezas.
Após o almoço, Bolsonaro se mostrou irritado em resposta a questionamentos sobre uma possível acusação formal da PGR. Ele manifestou seu desejo de “ter acesso aos autos”, referindo-se ao processo que se encontra em andamento sob sigilo. “Olha para a minha cara, o que tu acha? Eu não tenho preocupação com as acusações, zero”, afirmou o ex-presidente, minimizando os impactos das alegações contra ele.
Bolsonaro também mencionou ter conversado com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e, segundo ele, a percepção é de que já existem votos suficientes na Câmara para viabilizar a anistia. “Acho que na Câmara já tem quórum para aprovar a anistia”, disse, embora tenha se esquivado de comentar sobre a possibilidade da proposta avançar no Senado.
Um ponto de destaque na fala de Bolsonaro foi sua análise sobre a Lei da Ficha Limpa, da qual ele foi alvo de penalizações. O ex-presidente argumentou que seu caso deve ser tratado através de uma revisão dessa legislação em vez de propor uma anistia. “Não é anistia o meu caso. O meu caso é mudar a Lei da Ficha Limpa”, declarou ele, ao sugerir que a lei é utilizada como instrumento de perseguição política contra a direita.
A discussão sobre a inelegibilidade, que no atual cenário é de oito anos, também ganhou destaque durante o encontro. Parlamentares próximos a Bolsonaro defendem a redução desse prazo para dois anos consecutivos após o pleito em que ocorreu um abuso de poder. Essa mudança beneficiaria Bolsonaro, que, por imposição da Justiça Eleitoral, está impedido de concorrer a qualquer cargo público até 2030.
O senador Marcos Rogério, presente na reunião, expressou ceticismo sobre a quantidade de votos favoráveis para que a proposta de anistia avance no Congresso Nacional. Ele salientou a necessidade de conversar com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para dar andamento ao projeto. Os bolsonaristas estão trabalhando para sensibilizar parlamentares e autoridades sobre o que consideram uma penalização exagerada em relação aos manifestantes do 8 de Janeiro, argumentando que as penas aplicadas foram mais severas do que as impostas a criminosos comuns.
“O que vai pesar muito na discussão desse projeto da anistia vai ser a proporcionalidade. Mesmo alguém de centro ou esquerda, quando olha para uma situação de uma pessoa que foi lá, riscou uma estátua com batom e pega uma pena pesada que nem traficante pega, essa pessoa não tem como desconsiderar o fato de que isso é desproporcional”, destacou Marcos Rogério, ao enfatizar que a discussão deve levar em conta a proporcionalidade das penas aplicadas.
As movimentações em torno da proposta de anistia e as estratégias políticas dos partidos de oposição continuam a ser um tema central no âmbito político brasileiro, e as próximas semanas podem ser decisivas para o futuro dos presos do 8 de Janeiro.