Shwe Kokko, uma cidade emergente em Mianmar, é envolta em controvérsias que vão além de suas construções brilhantes e cassinos. Acusada de estar ligada a atividades como fraudes, lavagem de dinheiro e tráfico de pessoas, a cidade se tornou um símbolo de como a ambição pode se entrelaçar com práticas ilícitas.
Localizada no Estado de Karen, na fronteira com a Tailândia, Shwe Kokko, que significa "árvore tropical dourada", foi erguida em meio a uma das regiões mais empobrecidas e conflictivas do mundo. O homem por trás desse projeto, She Zhijiang, atualmente cumpre pena em uma prisão na Tailândia, aguardando extradição para a China. A empresa que construiu a cidade, a Yatai, se apresenta como responsável apenas por um projeto turístico, afirmando que Shwe Kokko é um paraíso para turistas e investidores chineses.
Entretanto, a realidade é bem diferente. Ao longo dos anos, os cassinos e hotéis surgiram a partir de um passado sombrio, que remonta a um aumento de scams e atividades ilegais. A região atraiu visitantes interessando-se por um estilo de vida luxuoso, mas a verdade é que muitos acabam se tornando vítimas de fraudes ou, pior, estão presos a sistemas de trabalho forçado.
A construção de Shwe Kokko começou em 2017, num ambiente de guerra civil, e acessá-la tornou-se uma tarefa complexa. São necessários dias de viagem a partir de Yangon, passando por múltiplos postos de controle e enfrentando o risco de se envolver em conflitos armados. Embora o acesso esteja restrito, a cidade se apresenta como um lugar vibrante, com ruas pavimentadas e moradias luxuosas. No entanto, essa impressão pode ser enganosa.
De acordo com relatos, a verdadeira população de Shwe Kokko é composta majoritariamente por trabalhadores locais, da minoria étnica Karen, que vêm até a cidade em busca de emprego. Por outro lado, as promessas feitas pela Yatai sobre visitantes internacionais e um fluxo constante de turistas não refletem a realidade.
A Yatai tenta desassociar-se de qualquer ligação com operações fraudulentas e expurgou da cidade os "negócios online" fraudulentos. Cartazes em chinês, birmanês e inglês proclamam que o trabalho forçado é estritamente proibido. Contudo, os moradores afirmam que essas práticas criminosas ainda são comuns. Os golpes, que começaram em locais como o Camboja, migraram para a região da fronteira entre a Tailândia e Mianmar, transformando Shwe Kokko em um verdadeiro centro de fraudes.
Casos de trabalho forçado também são alarmantes. Recentemente, dois brasileiros conseguiram escapar de condições desumanas em Mianmar, onde eram obrigados a trabalhar em golpes online. Relatos de vítimas indicam que, ao se depararem com propostas de trabalho atrativas, muitos acabam sendo levados para Shwe Kokko, onde a realidade é bem diferente do que foi prometido.
A pressão internacional e as notícias negativas sobre golpistas estão afetando o turismo na Tailândia, levando o governo a cortar fornecimento de energia e endurecer as normas de visto. A Yatai, por sua vez, busca limpar a imagem da cidade aceitando visitas de jornalistas, na esperança de que reportagens positivas possam melhorar a percepção do público e, ironicamente, aliviar a situação de She Zhijiang na prisão.
Em uma visita à cidade, a equipe da BBC encontrou uma cidade que se assemelha a um cenário de filme, mas com uma atmosfera sombria, onde possíveis turistas se tornam vítimas de crimes. O ambiente é controlado, com patrulhas que asseguram que apenas a narrativa desejada pela Yatai seja exibida.
Na visão de Wang Fugui, um dos auxiliares de She Zhijiang e ex-policial, o objetivo de Shwe Kokko é construir uma "cidade verde". Mas, mesmo com tais alegações, a realidade evidente diz respeito ao controle violento que rege a cidade. Os moradores comentam que todos em Shwe Kokko têm conhecimento das fraudes que ocorrem ali, mas o medo e a sujeição à violência mantêm a situação em segredo.
A figura de She Zhijiang é controversa. Nascido em uma aldeia pobre na China, ele começou sua jornada empresarial lidando com apostas online. Com um histórico de fraudes e envolvimento com o crime, ele acabou estabelecendo colaborações com senhores da guerra locais, criando Shwe Kokko a partir de um desejo por controle e poder. Agora, enquanto ele observa de uma cela na Tailândia, seu futuro é incerto e espera-se que as autoridades chinesas determinem sua sorte.
Apesar das tentativas da Yatai de desviar a atenção das atividades criminosas, Shwe Kokko permanece como um símbolo da fusão entre ambição e ilícito, levanta questões profundas sobre as consequências de tais ações em áreas devastadas por conflitos.
O cenário em Shwe Kokko oferece uma visão assustadora sobre o quão longe a ganância pode levar as comunidades e pessoas comuns. Será que é possível transformar um lugar manchado por fraudes em um destino legítimo? O tempo dirá, mas até lá, a cidade continua a ser um campo de batalha para aqueles que buscam riqueza rápida, muitas vezes às custas do bem-estar alheio.
Acompanhe e compartilhe informações sobre Shwe Kokko. É essencial que os relatos sobre essa cidade bizarra ganhem mais destaque para que a realidade das fraudes e do tráfico não seja esquecida.