A volta dos turistas argentinos às praias brasileiras trouxe à tona memórias de décadas passadas, impulsionadas pela atual situação econômica da Argentina. O governo de Javier Milei tem adotado três estratégias principais para enfrentar a crise: promover equilíbrio fiscal, manter disciplina monetária e combater a inflação, o que resultou em um peso momentaneamente valorizado em relação a moedas de países vizinhos, como o real brasileiro.
Durante um post humorístico em sua conta na rede X, o economista Martin Rapetti compartilhou sua visão sobre a taxa de câmbio, afirmando: “a taxa de câmbio real é um preço relativo; quando está baixa, é melhor ir para o Brasil ou Miami”. Essa perspectiva ressalta a importância da taxa de câmbio para os turistas argentinos, que, em férias, buscam destinos baratos.
Recentemente, o Índice Multilateral de Taxa de Câmbio Real do Banco Central da Argentina (BCRA) revelou que o peso argentino atingiu sua maior valorização desde o fim da convertibilidade, em comparação com o real brasileiro. A desvalorização do real em relação ao dólar tem acelerado essa valorização do peso, tornando os destinos turísticos brasileiros cada vez mais atraentes. Além disso, o aumento dos preços dos produtos brasileiros torna as ofertas locais menos competitivas.
Assim que assumiu o cargo, a equipe econômica de Milei, liderada pelo ministro Luis “Toto” Caputo, implementou uma desvalorização da moeda e adotou um sistema de “crawling peg”, promovendo ajustes mensais na taxa de câmbio. Apesar de ajudar a conter as expectativas inflacionárias, essa estratégia resultou em uma taxa de câmbio que não reflete adequadamente os preços internos e as tendências globais.
Nos últimos doze meses, o dólar oficial registrou um aumento de 183%, ultrapassando a inflação de 193%. Contudo, os dólares financeiros paralelos, como CCL e MEP, mostraram aumentos bem menores, evidenciando uma distorção no valor do peso argentino. O ex-ministro Domingo Cavallo destacou em seu blog que a valorização do peso é exagerada, o que gera preocupações especialmente no setor agrícola e industrial, que competem com produtos importados.
Embora haja rumores sobre uma possível desvalorização, Milei assegurou: “Não vamos desvalorizar, de forma alguma”. Essa declaração causou controvérsia, levando à demissão de Sonia Cavallo do cargo de representante argentina na ONU, em uma manifestação contra os comentários do pai.
Os especialistas observam que a estratégia cambial da Argentina, embora tenha sido eficaz a curto prazo, tende a trazer complicações a médio e longo prazo, especialmente afetando a competitividade em setores fundamentais da economia nacional.
A intensificação da viagem de turistas argentinos para o exterior também aumenta a pressão sobre a economia local. Desde janeiro, a diminuição do imposto PAIS sobre compras no exterior incentivou ainda mais as viagens, já que os preços internos em dólares se tornaram menos competitivos no mercado internacional.
Com as eleições se aproximando, a necessidade do governo argentino de manter o apoio popular é evidente. Controlar a inflação é crucial para o partido A Liberdade Avança, pois pode facilitar uma positiva postura no Congresso. Entretanto, essa situação política tem retardado a revisão das barreiras cambiais, temendo-se que a liberação do “cepo” possa resultar em aumentos de preços indesejados.
O ex-vice-ministro da Economia, Emmanuel Álvarez Agis, lembrou que, em períodos anteriores de valorização cambial, a acumulação de reservas foi fundamental para a sustentabilidade econômica. Historicamente, a Argentina alcançou isso através de investimento estrangeiro, dívida e privatizações, ou pela repatriação de capitais e boom de commodities em diferentes épocas. Cada estratégia teve suas peculiaridades e contextos específicos, que ajudaram a formar a economia argentina como a conhecemos hoje.
Outros desafios permanecem, como a falta de clareza em regras econômicas, que afugenta o investimento direto estrangeiro e pode impactar a arrecadação federal, além de desincentivar a exportação de produtos argentinos. A situação atual revela as complexidades que a Argentina enfrenta, tanto no contexto interno quanto em suas relações com o exterior.
Esse cenário volátil e incerto continua a exigir atenção e medidas eficazes para garantir a estabilidade econômica e o desenvolvimento do país nos próximos anos.