Central do Brasil: Bastidores do Oscar e seu impacto

No dia 21 de março de 1999, o filme Central do Brasil estava em destaque, e Aline Scátola, uma menina de 10 anos de Tupã, interior de São Paulo, recorda-se de ter enfrentado o sono durante a cerimônia do Oscar, impulsionada pela expectativa de que o longa-metragem brasileiro conquistasse uma estatueta. Concorrendo em duas categorias, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz, com Fernanda Montenegro, o filme tornara-se o assunto predominante em sua cidade. Aline afirma: "Lembro que o filme era o tema das conversas em todo lugar, no jornal, na televisão, na escola".

Enquanto isso, em Los Angeles, Vinícius de Oliveira, então com 11 anos e protagonista do filme, também se esforçava para se manter acordado. Ele participou de diversos eventos promocionais nos EUA, além da cerimônia de premiação. "Fizemos viagens para mostrar o filme, eu jantava e dormia na mesa", relembra Vinícius. "Até então, não tinha a percepção de que o Oscar era um grande objetivo para o Brasil". Antes de sua indicação ao Oscar, Central do Brasil já havia conquistado o Urso de Ouro em Berlim e o Globo de Ouro como Melhor Filme de Língua Estrangeira, consolidando-se como um grande sucesso de público e crítica.

Dirigido por Walter Salles, o filme continua a ser uma referência notável no cenário do cinema brasileiro, mais de 25 anos após seu lançamento. Nos bastidores, a produção enfrentou inúmeros desafios, principalmente em um contexto de recuperação do cinema brasileiro, que havia sofrido um golpe após o governo de Fernando Collor (1990-1992), que paralisou a produção cinematográfica no país.

Em 2025, o Brasil voltará a se unir em torno do filme Ainda Estou Aqui, também dirigido por Salles e que concorre em três categorias no Oscar. "O que muda com a maturidade é a percepção de que é possível dizer mais com menos", afirma Salles, destacando a relação entre os personagens e a trajetória do país que suas histórias representam.

Central do Brasil narra a jornada de Dora, uma ex-professora amargurada, que escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil, e sua relação com Josué, um menino de 9 anos que perde a mãe. Apesar da relutância inicial, Dora viaja com o garoto em busca de seu pai. O filme é visto como uma metáfora para um Brasil em transformação, refletindo os anseios e a regeneração do país durante o lançamento do Plano Real e o fim da inflação.

O roteiro, mesmo antes de ser finalizado, recebeu o prêmio Sundance, reconhecendo seu potencial. A busca por um garoto autêntico para interpretar Josué foi uma das maiores dificuldades da produção, com mais de mil testes realizados até a escolha de Vinícius de Oliveira. A produtora executiva Elisa Tolomelli compartilha: "Após seis meses de procura, encontramos o Vinícius, que estava engraxando sapatos no aeroporto".

As filmagens de Central do Brasil exigiram uma logística complexa, com equipes trabalhando em três estados: Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Wellington Pinto, coordenador de produção, relembra que filmar em locais movimentados foi um desafio. "Tivemos que manter a segurança e o planejamento em horários estratégicos", explica.

A resposta do público foi avassaladora. O filme estreou em 3 de abril de 1998 e rapidamente atraiu 1 milhão de espectadores em apenas dois meses, desafiando a crença de que o público brasileiro não se interessava por histórias nacionais.

Com sua candidatura ao Oscar, Central do Brasil se destacou entre produções anteriores. Fernanda Montenegro, indicada a Melhor Atriz, trouxe mais visibilidade ao filme, mesmo que ela tenha perdido para a americana Gwyneth Paltrow por seu papel em Shakespeare Apaixonado. A produtora Tolomelli comenta: "Para chegar ao Oscar, não basta o filme ser bom. Existe uma campanha envolvida".

Mais de duas décadas depois, Central do Brasil é reconhecido como um marco na história do cinema nacional, abrindo portas para produções como Cidade de Deus e promovendo uma nova fase no cinema brasileiro. Vinícius reflete sobre o impacto do filme em sua vida e na indústria cinematográfica: "Central do Brasil me ensinou a mostrar ao mundo a verdadeira essência do Brasil".