Recentemente, Tess Ingram, gerente de comunicação do UNICEF, declarou: “Os palestinos não querem sair de Gaza.” Essa afirmação contradiz a proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que sugere a transferência do controle de Gaza para os EUA, com a intenção de transformá-lo na “Riviera do Oriente Médio”. Ingram enfatizou que os habitantes da região desejam permanecer em suas casas e reconstruir suas vidas após meses de deslocamento. “As pessoas estão conectadas a sua terra e querem retornar e reconstruir”, acrescentou.
A proposta de Trump, que foi amplamente rejeitada pela comunidade internacional, exceto por Israel, envolve realocar os palestinos para países árabes vizinhos, como Jordânia e Egito. Segundo Ingram, muitos familiares expressaram: “Essa é a minha casa, e nós queremos ficar. Sabemos das dificuldades, mas estamos determinados a reconstruir.” Ela destacou que a maioria dos palestinos se mantém informada sobre o que ocorre no mundo e deseja apoio internacional.
No contexto atual, mais de 10 mil caminhões com ajuda humanitária já chegaram a Gaza durante o cessar-fogo. Ingram explicou que a ONU é capaz de fornecer assistência em larga escala, mas as operações foram limitadas durante os confrontos. “Estamos enviando alimentos, kits de higiene, roupas para o inverno e serviços de saúde”, disse. No entanto, o acesso à ajuda é dificultado por estradas danificadas e a falta de conexão com a internet.
As necessidades são imensas, e a prioridade dos palestinos é reconstruir suas vidas. Ingram relatou que muitas pessoas que retornaram ao norte de Gaza esperavam encontrar suas casas intactas, mas se depararam com destruição. “Essa foi a primeira vez que pudemos acessar essa área após a guerra, e as condições são desoladoras”, comentou.
O sistema de saúde na região também foi severamente afetado. Ingram observou que instalações como o Hospital Kamal Adwan, uma das poucas que sobreviveram, foram completamente destruídas. “Quando visitei em abril de 2024, o hospital funcionava, mas ao voltar, encontrei apenas escombros. Esse local, assim como outros, não fornece mais assistência médica às crianças que precisam”, lamentou.
Embora o norte de Gaza tenha sido o principal foco dos ataques, a destruição também se espalhou para o sul. “Durante toda a guerra, nenhuma parte da Faixa de Gaza foi realmente segura. O nível de destruição no sul é igualmente chocante”, afirmou Ingram. A cidade de Rafah, no extremo sul do enclave, que recebeu muitos desabrigados, também enfrentou danos severos devido aos enfrentamentos recentes.
A situação das crianças em Gaza é especialmente preocupante. Ingram destacou que elas foram profundamente afetadas pelos conflitos: “As crianças não têm acesso a água potável, vivem em constante medo e muitas vezes não podem ir à escola.” A má nutrição é uma grande preocupação, já que a falta de alimentos pode resultar em sérios problemas de saúde a longo prazo. “Durante o conflito, cerca de 90% das crianças em Gaza enfrentaram pobreza alimentar”, relatou.
A prioridade do UNICEF agora não é apenas fornecer ajuda imediata, mas também desenvolver programas de saúde mental e apoio social. Um mês antes do início do cessar-fogo, a UNRWA alertou que uma criança morria a cada hora em Gaza.
A primeira fase do cessar-fogo, que começou em 19 de janeiro, é uma tentativa de aliviar a situação. Acordos incluem a liberação de reféns e prisioneiros, além de uma pausa nos combates. Contudo, as incertezas ainda permanecem, já que a guerra pode recomeçar. Ingram finalizou sua análise afirmando que: “As pessoas viveram em incerteza por mais de um ano. Elas precisam de uma esperança contínua, e o cessar-fogo é crucial para evitar um retrocesso na saúde mental e na esperança do povo palestino.”