Recentemente, um acidente com um avião de pequeno porte na Barra Funda, em São Paulo, reacendeu o debate sobre a segurança dessas aeronaves. O incidente ocorreu na manhã da sexta-feira, 7, na Avenida Marquês de São Vicente, resultando em dois mortos e sete feridos. A explosão seguida da queda interferiu no tráfego local e levantou uma questão recorrente em eventos dessa natureza: por que as pequenas aeronaves não são equipadas com caixa-preta?
O professor Fernando Catalano, especialista em Engenharia Aeronáutica e diretor da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), traz esclarecimentos sobre a ausência desse equipamento. Segundo ele, a falta da caixa-preta se relaciona à estrutura eletrônica utilizada nessas aeronaves menores.
"A não inclusão de um sistema tão grande e pesado não se justifica. Embora algumas aeronaves possam ter sistemas para gravação de voz, aviões monomotores mais esportivos costumam não possuir esse tipo de dispositivo. É comum haver um transponder que sinaliza em caso de queda em áreas remotas, mas quanto menor a aeronave, menos tecnologia costuma estar a bordo", explica Catalano. A caixa-preta é fundamental em aviões comerciais, pois registra dados de voo e conversas da cabine, elementos essenciais para investigações de acidentes. Entretanto, as normas que regem as aeronaves menores são diferentes.
O professor ainda ressalta que o aumento na frequência de acidentes com aviões pequenos pode criar uma percepção equivocada de que esses voos são mais arriscados. Na verdade, esse fenômeno reflete o aumento da atividade aérea nas últimas décadas, intensificada ainda mais após o período pandêmico. “Se analisarmos o número de acidentes em relação ao total de voos, a taxa de incidentes continua a ser baixa”, assegura o especialista. Embora a manutenção de aviões comerciais ocorra com maior frequência e em aeroportos mais equipados, Catalano afirma que aeronaves menores seguem critérios rigorosos de manutenção e operação no transporte aéreo, sendo imprescindíveis para a sua viabilidade de operação.
Além disso, as mudanças climáticas têm se mostrado um fator preocupante tanto para grandes aviões quanto para os de menor porte. "Eventos climáticos extremos impactam todas as aeronaves, mas os aviões menores frequentemente enfrentam maiores desafios", conclui.