Na noite de 3 de dezembro de 1976, a vida de Bob Marley, o renomado cantor de reggae, teve um capítulo dramático quando sete homens armados invadiram sua casa. Naquele momento, Marley completaria 80 anos em 2025, mas, naquela ocasião, o destino lhe reservou uma experiência aterrorizante.
Os assaltantes não perderam tempo. Encontrando Rita Marley, esposa do cantor, no pátio, sem hesitar e sem uma palavra, dispararam um tiro contra sua cabeça. Ao mesmo tempo, três deles cercaram a residência enquanto os outros entrar em cena da cozinha, onde Marley se preparava para uma salada de frutas após ensaiar com a banda The Wailers. Neste cenário, a famosa jornalista britânica Vivien Goldman descreve a cena como um “fuzilamento em câmera lenta”, assinalando a brutalidade do ataque: mais de 80 disparos ecoaram, espalhando sangue pelas paredes e formando poças no chão, mas surpreendentemente, ninguém na casa morreu naquela noite, mesmo com a tensão crescente na Jamaica.
Momentos antes do ataque, Marley havia encerrado um ensaio para o evento Smile Jamaica, um show que poderia influenciar o destino político da nação. A época era marcada por um clima de instabilidade e violência, muito distante da ideia de um paraíso caribenho. Jamaica estava sob a influência de poderosos traficantes e pistoleiros, com as tensões sociais exacerbadas pela Guerra Fria, a poucos anos de sua independência do Reino Unido.
A ilha, localizada geograficamente próxima de Cuba, estava imersa em uma luta política intensa entre o Partido Nacional do Povo (PNP), liderado pelo socialista Michael Manley, e o Partido Trabalhista Jamaicano (JLP), sob o comando de Edward Seaga. Marley, como uma figura neutra, se tornou um importante símbolo para muitos, mas sua música teve o poder de mobilizar um grande número de eleitores.
"Os políticos são o diabo", declarou Marley, segundo Mikal Gilmore, jornalista da Rolling Stone. Ambos os candidatos buscavam seu apoio, e a situação se tornou ainda mais crítica, com Marley sendo alvo de ameaças constantes. Importante figura na época, o artista tinha apenas 31 anos e já era visto como uma liderança espiritual, em um contexto de desesperança e violência crescente na população jamaicana.
Com o intuito de acalmar os ânimos da sociedade, o governo promoveu um show gratuito que ocorreria em 5 de dezembro, mas logo percebeu uma nova jogada política, antecipando as eleições para 15 de dezembro, aumentando as pressões sobre o cantor. Mesmo assim, Marley decidiu participar do evento, ciente dos riscos que corria. Dois policiais foram designados para proteger sua residência, mas naquela fatídica noite, ambos estavam ausentes.
Em um curto período de cinco minutos, os invasores causaram o terror e depois fugiram, em um ato que ainda gera questionamentos. Como esses homens, que perpetraram um dos crimes mais audaciosos da história da Jamaica, puderam desaparecer sem deixar vestígios? O escritor Marlon James expressa essa perplexidade, usando o ataque como ponto de partida para sua obra literária que explora a vida nas áreas mais perigosas de Kingston.
A pesquisa sobre Marley naquela época revela a complexidade social em que ele estava inserido. Tornou-se um ícone para os mais oprimidos, mas percebido como uma ameaça para os que ocupavam o poder. Uma das questões que persistem até hoje é como o cantor sobreviveu ao tiro que recebeu no peito. Para ele, a salvação veio do espírito de Haile Selassie, imperador da Etiópia e uma figura sagrada para os rastafáris.
“Se Marley, naquele momento, estivesse inspirando em vez de expirando, a bala teria atravessado seu coração”, afirmou Marlon James, explicando que a bala apenas atravessou o corpo de Marley, atingindo o braço esquerdo. No meio do tumulto, Don Taylor, seu agente, também foi baleado e sobreviveu apesar da gravidade dos ferimentos.
A história de Rita Marley também é impressionante. O tiro disparado contra sua cabeça milagrosamente ficou preso entre o couro cabeludo e o crânio. Dois dias após o ataque, Marley, ainda com feridas, se apresentou em um show diante de mais de 80 mil pessoas, enquanto sua esposa utilizava a camisola do hospital.
Após esses eventos, a vida de Marley tomou um novo rumo. Ele deixou a Jamaica, passando pelas Bahamas, Estados Unidos e Londres, nunca mais retornando ao seu lar da mesma forma. Contudo, essa experiência inspirou o que a revista Time considera como o melhor álbum do século 20, Exodus, que traz temas profundos sobre dor e transformação.
Um vídeo capturou Marley em uma de suas últimas apresentações, mostrando seu ferimento ao público. Ele viveu com essa bala e a levou consigo até o seu falecimento em 1981, aos 36 anos. O ataque não apenas marcou sua vida, mas também a história da Jamaica, deixando marcas profundas na cultura e na sociedade de um país em tumulto.
A tentativa de assassinato de Bob Marley é um episódio que, até hoje, ressoa na memória coletiva, simbolizando tanto a luta quanto a resistência em um ambiente hostil.
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