O setor bancário brasileiro enfrenta uma transformação significativa devido às inovações tecnológicas, que geram preocupações tanto entre os trabalhadores quanto entre os cidadãos. O crescimento de bancos digitais e a consequente necessidade de fechamento de agências físicas deixam marcas profundas na estrutura social, resultando em precarização do trabalho, sobrecarga de funcionários e dificuldades no atendimento, especialmente para os idosos.
A advogada Dra. Maria Inês Vasconcelos afirma que "o fechamento de agências bancárias provoca um desequilíbrio enorme nas relações de consumo e de trabalho, inclusive para stakeholders". Segundo o Sindicato dos Bancários, a Caixa Econômica Federal anunciou que 128 de suas agências ficarão inativas, embora tenha garantido que as funções essenciais serão mantidas. Porém, o sindicato alerta que "o impacto dessas mudanças vai além da estrutura bancária. A Caixa desempenha um papel essencial na articulação de políticas sociais, e a desativação de unidades físicas compromete o atendimento a grupos mais vulneráveis".
De acordo com dados do Portal de Notícias G1, apenas 5 milhões de idosos estão conectados à internet entre os 29 milhões que compõem essa faixa etária no Brasil, o que torna a transição para serviços bancários digitais uma barreira significativa para essa população.
Dra. Maria Inês destaca ainda que a situação atual gera uma falta de justiça social evidente. "O local de trabalho está um dos mais impactados, de maneira tanto positiva quanto negativa, afetando a relação dos trabalhadores com os clientes e entre os próprios colaboradores. A tarefa dos bancários está sendo ampliada, fazendo com que eles tenham que realizar o trabalho de dois ou três colegas", observa. Essa realidade evidencia um crescente desequilíbrio entre o crescimento do setor financeiro e a proteção dos trabalhadores.
Os especialistas também concordam que a precarização do trabalho é um fenômeno em ascensão. O fechamento de agências, constantemente impulsionado pelos avanços tecnológicos, resultou em demissões em massa, como a vivenciada pelo Banco PAN, que dispensou mais de 100 funcionários apenas nos primeiros nove dias de 2025. Este movimento inclui consultores e gerentes de conta que atuavam na área de crédito consignado.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) relatar que entre 2019 e 2023 houve um crescimento impressionante de 251% nas transações realizadas via smartphones no Brasil. Apesar da modernização, a federação também ressalta que esse avanço gera desafios. "Os bancários enfrentam condições de trabalho cada vez mais precárias, enquanto clientes, especialmente os idosos, encontram dificuldades para acessar serviços essenciais. O debate sobre como equilibrar inovação e justiça social continua, embora as soluções pareçam distantes diante do ritmo acelerado das mudanças e da carência de regulamentações que garantam proteção aos trabalhadores".
Para finalizar, Dra. Maria Inês Vasconcelos faz um importante alerta sobre a nova realidade laboral dos bancários. "O fim da 'cadeira' é preocupante. Hoje, os gerentes utilizam apenas um tablet e um celular, vendendo produtos bancários e atendendo clientes sem um local fixo de trabalho. O deslocamento para fora das agências visa à redução de custos operacionais". Essa mudança não apenas transforma o trabalho dos bancários, mas também desafia a capacidade do sistema de atender efetivamente a todos os segmentos da população.
É crucial, portanto, que a sociedade e as instituições se mobilizem para debater soluções que conciliem os avanços tecnológicos com a justiça social, garantindo um atendimento digno e acessível para todos, especialmente para os mais vulneráveis.