Uma pesquisa recente da Quaest revelou que a violência se tornou a principal preocupação dos brasileiros, superando a economia como o problema mais citado. Este fenômeno ocorre em um período em que o índice de homicídios tem apresentado queda, mas o aumento dos latrocínios, que são os roubos seguidos de morte, vem alterando a percepção de segurança nas principais capitais do país.
Enquanto a violência em geral diminui em algumas regiões, grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Fortaleza notaram um aumento ou estabilização dos latrocínios em 2024, conforme dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp). Os especialistas indicam que esse crescimento, embora menos frequente em relação aos homicídios, impacta diretamente na sensação de insegurança da população.
No ano passado, foram registrados 917 latrocínios no Brasil, representando uma ligeira redução de 1% em comparação a 2023, enquanto que 35,4 mil homicídios dolosos ocorreram no mesmo período. Apesar da diminuição do total de homicídios desde um pico em 2017, a insegurança continua a crescer entre os cidadãos, refletindo em pesquisas como a da Quaest, que mostrou que a percepção de violência subiu de 12% para 26% entre os entrevistados entre 2023 e 2025.
A diretora do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, destaca que "o latrocínio tem um impacto na sensação de insegurança porque sua ocorrência está relacionada ao roubo, um tipo de crime que acontece na cidade inteira. Diferentemente dos homicídios, que costumam se concentrar em áreas específicas, onde há conflito criminal." A exposta mídia sobre latrocínios, mesmo que os números não sejam necessariamente crescentes, contribui para essa sensação negativa.
Um caso emblemático aconteceu em janeiro, envolvendo o delegado Josenildo Belarmino de Moura Junior, que foi morto durante um assalto na Zona Sul de São Paulo. As investigações revelaram que a quadrilha envolvida no crime já tinha assaltado outras duas vítimas no mesmo dia. A Polícia Civil conseguiu prender um suspeito rapidamente após o ocorrido. Esse incidente exemplifica o que a diretora do Instituto Sou da Paz descreve como "um roubo que deu errado", onde a reação dos assaltantes ou das vítimas pode levar a desfechos trágicos.
As estatísticas do estado de São Paulo mostram que em 2024, houve 170 vítimas de latrocínios, com um aumento significativo de 23% apenas na capital, que passou a contar 53 vítimas. A situação se agravou no Rio de Janeiro, que registrou um aumento de aproximadamente 60% nos casos, subindo de 26 para 42 latrocínios.
Em todo o estado fluminense, o total subiu para 97, uma alta de 50% em relação ao ano anterior. Além disso, o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio indicou um aumento dos roubos de rua, um dado que não faz parte do Sinesp, mas que reflete a gravidade do cenário.
Após um período de queda registrada durante a pandemia de Covid-19, os roubos de rua começaram a subir novamente, totalizando cerca de 58,5 mil registros em 2024, um aumento significativo em relação ao ano anterior, com a capital contribuindo com 37,4 mil registros de roubos.
No Recife, houve uma leve alta nos registros de roubos, totalizando 18,9 mil, um aumento de cerca de 2%. No entanto, essa oscilação contrasta com a ambiente geral do estado de Pernambuco, que vem mostrando uma diminuição nos índices desde 2017.
Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, acredita que a alteração na dinâmica dos roubos em grandes cidades está diretamente ligada ao aumento dos latrocínios. O último Anuário Brasileiro de Segurança Pública indicou que os roubos de celulares, frequentemente realizados em espaços públicos, estão frequentemente se tornando “porta de entrada” para outros crimes. Lima observou que muitos delitos evoluíram de furtos para roubos mais violentos, transformando-se em latrocínios.
Mesmo diante do crescimento de latrocínios, há estados como o Ceará onde a quantidade total de roubos diminuiu, embora os latrocínios tenham dobrado nesse mesmo período. Em 2024, o estado contabilizou 19,3 mil roubos de celulares, uma queda de 15% em comparação ao ano anterior.
Portanto, a crescente insegurança, impulsionada pelo aumento da violência em várias capitais do Brasil, reflete uma real preocupação da população, que se vê afetada não apenas pelo risco imediato, mas pela atmosfera de medo que permeia o cotidiano. O desafio contínuo enfrenta tanto as autoridades quanto os cidadãos na busca por soluções efetivas que possam restaurar a sensação de segurança e bem-estar nas grandes cidades.
Você se sente seguro na sua cidade? Deixe seu comentário e compartilhe sua opinião sobre as medidas que poderiam ser adotadas para melhorar a segurança pública.