No Jardim Pantanal, um dos bairros mais afetados por alagamentos em São Paulo, a situação tem sido cada vez mais crítica. Desde a última sexta-feira, as fortes chuvas inundaram dezenas de quarteirões, levando os moradores a improvisarem soluções para se locomover pela área submersa.
A reportagem do GLOBO, realizada por um repórter e um fotógrafo, evidenciou a realidade local ao serem transportados em uma caixa d'água para acessar a região devastada pelas enchentes. O bairro, localizado na Zona Leste de São Paulo, tem apresentado um cenário alarmante, com ruas e casas debaixo d'água.
Na Avenida José Martins Lisboa, onde a água já encobre os calçados, os moradores precisam adaptar-se às novas circunstâncias. Caiaques e barcos improvisados tornaram-se meios comuns de transporte. Durante a visita da equipe do GLOBO, foi possível observar crianças, idosos e até pessoas com necessidades especiais sendo transportados de maneira improvisada. Um exemplo marcante foi o caso de Mario Victor Rezende, de 18 anos, que após sofrer um ferimento ao andar pelas águas contaminadas, buscou atendimento médico para receber vacinação antitetânica.
Ao longo do trajeto de barco, que se estendeu por aproximadamente trinta minutos, a reportagem se deparou com cenas de solidariedade e reações diversas dos moradores. Enquanto alguns estavam ilhados, outros demonstravam resiliência, como Odair Rezende, conhecido como Bê, que relatou estar ajudando as pessoas na região utilizando um barco adquirido no improviso.
As enchentes têm causado um grande desconforto e dificuldades a muitos moradores que se encontram isolados. Segundo relatos, a região, que já enfrenta problemas recorrentes de alagamentos, se transformou em um verdadeiro labirinto aquático. A única forma segura de locomoção é através de barcos ou se arriscando em áreas com profundidade nas águas.
Entre as mazelas enfrentadas, destaca-se o desespero das famílias que, ao verem suas casas submersas, se lembram de tragédias passadas, como a ex-moradora Elaine Neves, que relembrou a experiência de alagamentos ocorridos em 2010. "Nunca presenciei algo tão assustador como o que estou vendo agora", disse Elaine, que visitava a família e acabou presa em meio às inundações.
A população, extremamente unida, tem se mobilizado para ajudar uns aos outros. Pequenos grupos têm se formado para transportação de mantimentos e doações para as famílias afetadas. Mesmo assim, relatos de perda material e questões de saúde têm se agravado devido à permanência na água suja.
Os moradores culpam a Barragem da Penha, localizada no Rio Tietê, pela situação preocupante. Eles acreditam que uma gestão inadequada da barragem está contribuindo para o aumento das inundações. Contudo, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística negou qualquer relação entre o funcionamento das comportas da barragem e os alagamentos locais.
A comunicação entre os residentes tem sido fundamental; eles frequentemente se ajudam na busca por informações e recursos. Ao longo da tarde, quando os barqueiros não retornaram, surgiu a necessidade de arranjar um meio alternativo para voltar ao ponto inicial. Os moradores, solidários, rapidamente organizaram a estratégia de usar caixas d'água para evitar ser molhados durante o transporte. Essa criatividade tem sido uma característica marcante da comunidade em tempos difíceis.
No entanto, a insegurança permaneceu, pois a jovem Sileide dos Santos Caje, que ajudou os repórteros a chegar ao local mais seco, ressaltou sua preocupação. "Não sabemos quando a água vai baixar", afirmou, demonstrando a incerteza que permeia a vida dos moradores.
Com as enchentes, a população do Jardim Pantanal se encontra às voltas com um futuro incerto. Apesar das promessas de ajuda do governo de São Paulo, muitos ainda se sentem desprotegidos e incapazes de retomar a rotina habitual. De fato, o alagamento diário mudou não apenas a fisionomia das ruas, mas também os laços da comunidade, que se tornaram ainda mais fortes, reforçando a importância da solidariedade e da resiliência em momentos críticos.
O cenário no Jardim Pantanal é um lembrete da vulnerabilidade das áreas urbanas frente a desastres naturais e da necessidade urgente de medidas eficazes de drenagem e planejamento urbano. A população clama por soluções e para que situações como essa não voltem a acontecer, pois cada dia traz novos desafios para a sobrevivência local.
Se você deseja se informar mais sobre a situação e apoiar a comunidade do Jardim Pantanal, não hesite em compartilhar suas opiniões e sugestões nos comentários.