Artur Barrio, um dos grandes nomes da arte brasileira, completa 80 anos dedicando-se agora ao desenho em nanquim. Conhecido por obras contestadoras e efêmeras, suas instalações desafiam convenções e refletem sua trajetória marcada por engajamento político e inovação artística.
Após se mudar com a família da cidade do Porto, em Portugal, para o Rio de Janeiro, em 1955, Barrio se dedicou ao desenho, inicialmente sem se ver como um artista. Ele relembra: "Fazia umas garatujas horríveis. Meu irmão mais velho é que desenhava imensamente bem, mas não quis seguir carreira artística." Dez anos depois, começou a produzir seus primeiros trabalhos e, em 1967, entrou para a Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, tornando-se um dos nomes de referência na arte brasileira.
Aos 80 anos, Barrio volta ao desenho como meio de expressão. Suas obras em preto e branco em nanquim sobre papel são um reflexo de sua busca por algo mais íntimo e íntimo. "O desenho é o princípio de tudo, ao menos para mim, e a espontaneidade dele me permite essa reflexão", afirma. Ele reconhece que chegou a um limite em suas instalações: "Acho que tentar ultrapassá-lo é muito complexo para mim. Então sinto que é hora de desenhar."
No mesmo MAM que agora expõe sua instalação e onde frequentava nos anos 1960, Barrio participou do "Salão da Bússola" em 1969, um marco da arte conceitual no Brasil, ao lado de outros grandes nomes. "Não consigo me ver como um artista conceitual, nem acho que no Brasil exista uma arte conceitual nos moldes da americana ou da inglesa", pondera o artista.
As obras de Barrio frequentemente abordam questões sociais e políticas. No "Salão da Bússola", ele expôs suas "Trouxas ensanguentadas", em alusão à situação dos presos políticos durante a ditadura militar brasileira. A crítica social está presente em sua carreira, evidenciada por sua série "Livro de carne", que usou pedaços de carne como páginas de um livro, refletindo sobre o efêmero e o orgânico da vida e da arte.
Diretor artístico do MAM, Pablo Lafuente elogiou a dedicação de Barrio em suas exposições. "A obra do Barrio se opõe às estruturas de poder e questiona os processos dos ambientes institucionais. Ele mantém uma visceralidade e urgência em seu trabalho", analisa. Durante a montagem de sua instalação, a atenção aos detalhes deixava claro seu compromisso com a materialidade da arte.
Enquanto trabalha em novos desenhos, Barrio aguarda confirmações de exposições individuais na Europa para 2026. Ele se sente feliz por continuar produzindo. "Cá estamos aos 80 anos, nunca pensei em chegar a essa idade. Quero velejar, mergulhar, criar e jogar xadrez todos os dias", expressa com um sorriso. "Minha obra aí está, e o tempo dirá como fica."