O percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo), uma espécie originária da China e considerada uma praga na Ásia, libera um odor desagradável para afastar possíveis predadores. A informação foi confirmada ao g1 pelo biólogo Yan Lima, responsável pelo primeiro registro do inseto no Brasil.
A espécie, que se alimenta de diversas plantas e causa desequilíbrios ambientais, tem chamado a atenção de especialistas após ter sido vista 22 vezes na Baixada Santista, no litoral de São Paulo. A maior incidência é em Santos, embora também tenham sido feitos registros em São Vicente e Guarujá.
De acordo com Yan, os percevejos possuem glândulas que, ao serem abertas, produzem um líquido que evapora rapidamente, liberando um cheiro desagradável. Este mecanismo é usado contra qualquer animal que faça o percevejo se sentir ameaçado, desde outros insetos e aracnídeos a mamíferos maiores.
O biólogo também é fotógrafo de vida selvagem e sempre busca por pequenos animais. Ele encontrou um percevejo-de-pintas-amarelas no dia 13 de novembro de 2020, enquanto registrava insetos em uma árvore próxima à sua casa, perto do Porto de Santos. Em 19 de fevereiro de 2021, o jovem publicou as imagens no sistema iNaturalist, usado para registro e identificação de animais. Foi então que entomologistas como Cristiano Schwertner e outros pesquisadores o alertaram sobre a possibilidade de ser o primeiro registro da espécie no Brasil.
Yan realizou uma expedição pela cidade de Santos para confirmar a presença do percevejo no Brasil. Após o primeiro registro, o biólogo localizou o inseto mais quatro vezes.
"Foi uma experiência incrível. Depois do primeiro contato dos pesquisadores, pesquisei mais sobre essa espécie invasora e vi que na América só tinha um registro nos EUA. Para um biólogo, um registro desse nível é de um peso enorme".
O Erthesina fullo é um inseto polífago, ou seja, se alimenta de diversos tipos de plantas. No continente asiático, ele é responsável por danos em algumas culturas agrícolas. Contudo, no Brasil, não há dados suficientes para afirmar se a espécie representa uma ameaça para as plantas cultivadas.
Tamanho: Atinge de 1,2 a 1,5 cm de comprimento.
Aparência: Corpo verde ou amarelo com pintas amarelas.
Reprodução: A fêmea deposita entre 50 a 200 ovos por vez.
Ciclo de vida: O ciclo completo dura de 4 a 6 semanas.
Vida adulta: Vive entre 2 a 4 meses, dependendo das condições.
Embora ainda não tenha causado danos significativos no Brasil, o percevejo é visto com preocupação por pesquisadores. Caso a espécie continue a se expandir, pode se tornar invasora, comprometendo o equilíbrio ambiental e trazendo prejuízos econômicos no país e na América do Sul.
"Há risco, caso não haja um monitoramento adequado", alertou Ricardo Brugnera, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O último registro no sistema iNaturalist foi feito em outubro de 2024, no Parque São Vicente, e a plataforma é usada para criar uma base de dados sobre a biodiversidade global.
A principal hipótese é que o percevejo tenha chegado ao Brasil pelo Porto de Santos. O inseto possivelmente foi trazido por navios, em contêineres. O primeiro registro ocorreu próximo ao porto, o que fortalece essa teoria. Segundo Yan, a chance de tê-lo trazido por via terrestre é vaga, uma vez que tal espécie não havia sido registrada antes na América Latina.
Apesar de não representar riscos à saúde humana até o momento, especialistas recomendam o monitoramento contínuo. Qualquer pessoa que avistar o inseto deve registrar a ocorrência com fotos no iNaturalist, contribuindo assim para o conhecimento sobre a espécie.